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Schopenhauer - sobre a arte de escrever

     Aos interessados, transcrevo abaixo alguns trechos de "A arte de escrever" de Arthur Schopenhauer,  editado pela L&PM. É uma coletânea de escritos retirada do livro Parerga e Paralipomena, publicado por ele de 1851.
Títulos originais: Über Gelehrsamkeit und Gelehrte; Selbstdenken; Über Schriftstellerei und Stil; Über Lesen und Bücher; Über Sprache und Worte. Organização, tradução, prefácio e notas: Pedro Süssekind; revisão: Clóvis Victoria e Jó Saldanha. Porto Alegre: L&PM, 2009. 176 p. 
      É curioso observar que as colocações do autor se aplicam muito bem aos dias de hoje.
     "Assim, a primeira regra do bom estilo, uma regra que praticamente se basta sozinha, é que se tenha algo a dizer."...      
     "Em tudo o que eles escrevem, percebe-se que pretendem parecer que têm algo a dizer, quando não têm coisa alguma. Essa maneira de escrever, introduzida pelos pseudofilósofos das universidades, pode ser observada facilmente e mesmo entre as mais destacadas celebridades literárias desta época. Ela é a mãe tanto do estilo forçado, vago, ambíguo e mesmo plurívoco, quanto do estilo prolixo, pesado, o style empesé, e também da torrente inútil de palavras e, finalmente, do ocultamento da mais deplorável pobreza de pensamento sob uma tagarelice infatigável, ensurdecedora, atordoante. No caso de tais estilos, uma pessoa pode ler por horas a fio sem capturar nenhum pensamento preciso e claramente exposto."...
      "Quem tem algo digno de menção a ser dito ... pode se expressar de modo simples, claro e ingênuo, estando certo com isso de que suas palavras não perderão o efeito."...
      "Seria proveitoso que os escritores alemães chegassem à conclusão de que, embora de fato se deva pensar como um grande espírito, sempre que possível deve-se falar a mesma linguagem das outras pessoas. Palavras ordinárias são usadas para dizer coisas extraordinárias; mas eles fazem o contrário. Nós os vemos esforçados em disfarçar conceitos triviais com palavras nobres, em vestir seus pensamentos muito ordinários com as mais extraordinárias expressões, as fórmulas mais rebuscadas, mais pretensiosas e mais raras. Suas frases são sempre como que carregadas em liteiras."...
      Como exemplo, Schopenhauer menciona esta amostra:
      "A próxima publicação de nossa editora: fisiologia científica teórico-prática, patologia e terapia dos fenômenos pneumáticos denominados flatulências, que são apresentados de maneira sistemática em suas relações orgânicas e causais, de acordo com seu modo de ser, como também com todos os fatores genéticos condicionantes, externos e internos, em toda a plenitude de suas manifestações e atuações, tanto para a consciência humana em geral quanto para a consciência científica: uma versão livre da obra francesa l'art de péter [a arte de peidar], provida de notas corretivas e excursos esclarecedores."