A Água se aprende pela sede;
A terra, pelos mares atravessados;
O êxtase, pela agonia sofrida;
A paz, pelas batalhas vividas;
O amor, pelos jazigos da memória;
Os pássaros, pela neve.
A terra, pelos mares atravessados;
O êxtase, pela agonia sofrida;
A paz, pelas batalhas vividas;
O amor, pelos jazigos da memória;
Os pássaros, pela neve.
Estes versos foram escritos por Emily Dickinson, poetisa norte-americana que nasceu em 1830 e viveu 55 anos. Segundo críticos, seu estilo faz uma mescla de puritana com livre pensadora.
Praticamente autodidata em poesia, parece não ter recebido influência de nenhum escritor conhecido. Teve apenas dez poemas publicados em vida. Embora vissem originalidade em seus versos, os editores não os compreendiam bem - ela simplesmente fugia às regras de escrita que não combinassem com sua liberdade de expressão. Vivendo sempre na casa paterna, ela conheceu poucas cidades, mas sua imaginação percorreu temas de todos os tempos e lugares, amores platônicos, solidão...
O poema chamou-me a atenção quando assisti Rois & Reine*, um filme singular, não apenas por causa do diretor e dos atores, mas pelo roteiro e história. No epílogo, emocionam o diálogo sublime - entre adulto e criança - e o poema.
As traduções variam um pouco, o que não poderia ser diferente - cada língua tem expressões específicas que, às vezes, não podem ser transpostas para outras. Mostro aqui a que aparece no filme, para mim a mais significativa. A mensagem transmitida vai um pouco ao encontro das ideias de Emil Cioran (1911 -1995), filósofo romeno influenciado por Schopenhauer e Nietzsche, entre outros: "O sofrimento nos abre os olhos, ajudando-nos a ver o que não veríamos de outra forma." Diferentemente de Nietzsche, porém, Cioran não via sentido no sofrimento além de ser útil para o conhecimento.
*Rois & Reine (Reis e Rainha)
Emmanuelle Devos
Mathieu Amalric
Catherine Deneuve
Diretor: Arnaud Desplechin