Antes de sair, parou diante
do espelho do guarda roupas - que estava aberto - e contemplou sua imagem. Os
olhos azuis atenuavam um pouco a anatomia da sua fronte, que lembrava a de um
criminoso qualquer, daqueles das histórias de quadrinhos de antigamente. Haviam
raspado sua cabeça há algumas semanas, mas os cabelos louros espetados já
começavam a tomar presença naquela fisionomia caucasóide marcada por
cicatrizes de acne. Do meu canto, lembrei-me da alcunha de “Omo total” que lhe
haviam dado ao ser visto de calção durante um jogo de futebol entre calouros e veteranos em que fora
obrigado a atuar no gol.
Pôs-se
a esquadrinhar a pele do rosto, por vezes detendo-se diante de algum ponto
específico. Findo o exame, levou para lá seus dedos indicadores, que se ocuparam
em espremer algum cravo eventual.
Nesse
serviço gastou aproximadamente uns quinze minutos. Então afastou-se um pouco e,
entre extasiado e resoluto, fez esta observação, dirigida à sua própria imagem:
“Bicho,
tu é bonito pra caralho! ”