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Cena à mesa de jantar
A toalha de mesa xadrez vermelho e branco já é um convite para que nos sentemos à mesa. Uma a uma, chegam as iguarias. Salada de tomate e repolho, feijão...
O que será que tem de mistura? Detrás da montanha branca que se formou no prato do companheiro à minha frente, vejo sair uma mão avantajada que se esmera em esvaziar o potinho de tempero. Resmungos...
- "Toninha, traz a carne!" Ela não responde.
- "Carne, pra que carne"? soa uma voz esganiçada. Levanto os olhos, e me deparo com a figura que acaba de adentrar a sala. Trajando apenas cueca branca, leva à mão direita um copo de café e um Hollywood. A esquerda ocupa-se em cofiar o saco...
- Porra, não tem carne nesta casa?” insisto. Ao que ele profere, com a autoridade de um professor titular:
- "Você tem é desinformação dietética!”
A Toninha não veio
Passo os olhos pelo granito carcomido do balcão da cozinha. Na panela, hifas e leveduras deitam um tapete esverdeado sobre o que outrora foi um resto de caldo de feijão. Brigando por espaço, xícaras meladas, uma garrafa térmica vazia e pratos de sopa empilhados.
A pia...O que estaria por debaixo daquele líquido ocre que chega quase até a borda? Com um puxão firme na porta do velho armário de aço, presencio minúsculas tropas de assalto a investir contra um indefeso pote de açúcar. Mais ao fundo, esquecido, um copo de vidro, desses de massa de tomate. É você mesmo que eu quero. Viro a torneira do filtro pra lá, pra cá, inclino um pouco... Beleza! Enquanto mato a sede, chega aos meus ouvidos uma voz modorrenta, vinda lá do quarto:
“Esta casa está ficando do jeito que eu gosto...! ”
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