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Sobre Emily Dickinson

Water, is taught by thirst
Land - by the Oceans passed
Transport - by throe -
Peace - by its battles told
Love, by Memorial mold 
Birds, by the Snow.


A água, se aprende pela sede
A Terra - pelos mares atravessados
O transporte, pelo sacolejar (O êxtase pela agonia)
A Paz, pelas batalhas vividas
O Amor,  pelos jazigos da memória
Os Pássaros, pela neve.

Estes versos foram escritos por Emily Dickinson, uma poetisa norte-americana que nasceu em 1830 e viveu 55 anos. Disseram que seu estilo denota uma mescla de puritana com livre pensadora.
            Praticamente autodidata em poesia (teria recebido influência de um praticante de escritório de advocacia e de um pároco), parece não ter recebido influência de nenhum escritor conhecido.
            Teve apenas dez poemas publicados em vida. Embora vissem originalidade em seus versos, os editores não os compreendiam bem - ela simplesmente fugia às regras de escrita que não combinassem com sua liberdade de expressão.
            Vivendo sempre na casa paterna, conheceu poucas cidades, mas sua imaginação percorreu temas de todos os tempos e lugares, amores platônicos, solidão...
            A primeira edição de sua obra foi publicada em 1890, quatro anos após sua morte, mas só em 1945 sua produção viria a ser conhecida. Há aproximadamente 1800 textos de sua autoria publicados.
            Este verso chamou-me a atenção quando assisti ao singular filme Rois & Reine, do diretor francês Arnaud Desplechin. Achei-o muito bom, não apenas pelo diretor e atores (Emmanuele Devos, Mathieu Amalric; Catherine Deneuve faz uma breve aparição)
, mas pela história, que tem em seu epílogo este poema. As traduções variam um pouco, o que não poderia ser de outro modo - cada idioma tem expressões peculiares que às vezes não podem ser transpostas para outros. Esta, que aparece no filme, foi a que achei mais bonita.

É interessante notar que a mensagem transmitida pelo poema (pelo menos como eu vejo), vai um pouco de encontro à filosofia de Nietzsche (1944 - 1900), que via o lado vantajoso do infortúnio e das dificuldades (e ele as teve enormes). Acreditava que estas seriam um mal necessário e que, se administradas com talento, poderiam gerar coisas belas e o fortalecimento.

A expectativa que cultivas

       Ao avançar agora algumas décadas surge-me a figura de uma moça de quem eu gostava. Feita da mistura incomum de pragmatismo e leveza, tinha um encanto psicológico que me atraia. Costumava dizer que não confiava em ninguém, nem nela própria. O tempo se encarregou com que eu viesse a concordar inteiramente com ela. Deve-se desistir diante das evidências que fazem a regra? 

        Lembro aqui da citação de JW Goethe, enfatizada pelo psiquiatra austríaco Viktor Frankl em sua busca por um sentido na vida: “If we take man as he is we make him worse, but if we take man as he should be we make him capable of becoming what he can be.” É uma máxima cuja validade temos oportunidades de testar no dia-a dia. Nessa empreitada, ficarei feliz se for bem-sucedido pelo menos uma vez...

        Da minha parte, não creio haver muito lugar para idealismos neste momento. No entanto, valendo-me ainda da alegoria ecológica, por vezes vejo-me a chafurdar, teimoso, em um pântano. Com o olhar atento, paciência e sorte, quem sabe não encontre alguma flor?

        “Tu te tornas eternamente decepcionado pela expectativa que cultivas" lembrava-me um amigo (hoje falecido) mágico das letras. Contrapondo-se à filosofia exuperyana, esta paródia revela sabedoria baseada na vivência prática com seres humanos. Seria o produto final de nossas idealizações. Por outro lado, penso que decepções podem servir também de matéria-prima para forjar a vontade de mudança. A forma para se fazer isso compete a cada um escolher. 

        Ao longo da vida doamos parte do nosso tempo e energia a pessoas nas quais acreditamos. Algumas poucas nos são gratas, por terem correspondido ao nosso empenho; mesmo estando fisicamente distantes nunca as esquecemos. Outras, com o tempo, afastam-se por não comungar mais das mesmas devoções — estas nos são indiferentes. E ainda há as que, dada sua carência de luz própria, guardam instintos predadores. Em geral, ocultam-se sob uma máscara de simpatia e efusividade. A elas dedico um pensamento de Schopenhauer. Este filósofo alemão dizia que toda a maldade, inveja e estupidez que tivemos que suportar não devem ser de modo algum atiradas ao vento, mas sim usados como alimenta misanthropiae e continuamente lembrados para sempre termos diante dos olhos a índole real dos homens, e não nos comprometermos de modo algum com eles.

        Finalizo com um trecho já mencionado de sua coletânea de escritos a respeito:  “Assim descobriremos que, de fato, frequentávamos há muitos anos aqueles com quem tivemos experiências desse gênero, sem os acreditarmos capazes disso. E, portanto, foi só a ocasião que os pôs em evidência. Ora, quando começamos a nos familiarizar com uma pessoa, devemos ter em mente que, caso a conhecêssemos mais intimamente, decerto a desprezaríamos ou teríamos que odiá-la.”

Glaciar

                                                       

Glaciar

 

Acostumar-se à latitude austral

E aos efeitos da hipotermia

Conservar-se em quietude e afinal

Retirar-se ao silêncio e à paralisia

 

Trafegar nas alturas das baixas temperaturas

Suportar a ardência aguda das rachaduras

 

Nem pálido nem violáceo, adotar o turquesa

Das águas cativas das montanhas claras

E como quartzo laminado, retratar a natureza

Das entidades que lhe são mais caras

 

Às vezes provar um trago de aguardente

Sonhar que é animal de sangue quente

Mais tarde, com um balde de água fria

Despertar, a face encostada na guia

Um breve, enganoso instante

                            Um breve, enganoso instante

            Embora lhe notasse a graça e a delicadeza, não a vislumbrara como uma mulher por quem um dia pudesse se interessar. Pois era o que vinha acontecendo desde que ela passara a lhe fazer companhia com suas conversas e livros.

            Conversavam sobre tudo - coisas importantes ou não, e as ideias fluíam bem. Estava sempre em dúvida e costumava dizer que não confiava em ninguém, nem nela própria. Mas onde encontrar alguém para discutir Saint-Exupéry (que não o Pequeno Príncipe), D.H. Lawrence, personagens da revolução francesa, e que tivesse lido o ‘Diário de Ana Maria’?

            Com o tempo, constatou que o material de que era feita - uma mistura incomum de pragmatismo e leveza - tinha um encanto psicológico que o atraía.

            Lembrou-se do fim de tarde em que ao sair do trabalho a avistou no ponto de ônibus, antes de um temporal que se anunciava. Movido por reflexo, parou e ofereceu-lhe carona. O vento que fazia voar as folhas das árvores e a visão quase onírica de sua figura - a pele muito branca, os cabelos anelados, revoltos, de uma cor incomum, que contrastava com tudo...ela aceitara e foram conversando, como se conhecessem de longo tempo.

            Um dia ele sentiu se aproximar o momento em que a mulher que lhe cativara iria embora. Anteviu então que não apenas aquele lugar, mas o mundo inteiro ficaria sem graça. Tomado por uma sensação amarga, mas ainda não de desalento, ele entendeu o que deveria dizer-lhe...

            O bar estava iluminado e quase vazio quando chegaram. Acomodaram-se, ela conduzida por palavras, ele por pensamentos. Em certo momento, percebendo uma brecha em meio à sua loquacidade, ele pediu-lhe alguma coisa...
            Calados, juntaram tacitamente as mãos e olharam-se nos olhos. Assim ficaram até que ele a puxou para si e seus lábios se encontraram – e então sentiu, visceralmente, o mesmo gosto e leveza que sentia quando conversavam.
            E à medida que lhe sobrevinham as sensações, ele pensava no epílogo de um conto de Tomas Mann: 
“Pois uma felicidade, um pequeno calafrio e atordoamento de felicidade toca o coração quando aqueles dois mundos entre os quais oscila nosso anseio se tocam por um breve, enganoso instante.”

 

     





        

Emmenez moi - Charles Aznavour



Vers les docks où le poids et l'ennui
Me courbent le dos
Ils arrivent le ventre alourdi
De fruits les bateaux

Ils viennent du bout du monde
Apportant avec eux
Des idées vagabondes
Aux reflets de ciels bleus
De mirages

Traînant un parfum poivré
De pays inconnus
Et d'éternels étés
Où l'on vit presque nus
Sur les plages

Moi qui n'ai connu toute ma vie
Que le ciel du nord
J'aimerais débarbouiller ce gris
En virant de bord

Emmenez-moi au bout de la terre
Emmenez-moi au pays des merveilles
Il me semble que la misère
Serait moins pénible au soleil

Dans les bars à la tombée du jour
Avec les marins
Quand on parle de filles et d'amour
Un verre à la main

Je perds la notion des choses
Et soudain ma pensée
M'enlève et me dépose
Un merveilleux été
Sur la grève

Où je vois tendant les bras
L'amour qui comme un fou
Court au devant de moi
Et je me pends au cou
De mon rêve

Quand les bars ferment, que les marins
Regagnent leur bord
Moi je rêve encore jusqu'au matin
Debout sur le port

Emmenez-moi au bout de la terre
Emmenez-moi au pays des merveilles
Il me semble que la misère
Serait moins pénible au soleil

Un beau jour sur un rafiot craquant
De la coque au pont
Pour partir je travaillerais dans
La soute à charbon

Prenant la route qui mène
A mes rêves d'enfant
Sur des îles lointaines
Où rien n'est important
Que de vivre

Où les filles alanguies
Vous ravissent le coeur
En tressant m'a t'on dit
De ces colliers de fleurs
Qui enivrent

Je fuirais laissant là mon passé
Sans aucun remord
Sans bagage et le coeur libéré
En chantant très fort

Emmenez-moi au bout de la terre
Emmenez-moi au pays des merveilles
Il me semble que la misère
Serait moins pénible au soleil

Emmenez-moi au bout de la terre
Emmenez-moi au pays des merveilles
Il me semble que la misère
Serait moins pénible au soleil